Todos, Nenhum: Simplesmente Humano

Todos, Nenhum: Simplesmente Humano

Uma rápida olhada nas minhas leituras dos últimos dois anos deixa bem claro que eu tenho MUITO interesse em livros com personagens LGBT e com transtornos mentais. O primeiro porque eu PRECISO entender o que os outros passam para ter cada vez mais empatia por suas causas, ainda que de certa forma já tenha o bastante. O segundo, claro, para aceitar o que vivo dentro da minha cabeça mesmo. Quando a Lili me disse que estava terminando um livro sobre uma pessoa gênero fluído (que, por sinal, tem Transtorno de Ansiedade), então, de cara pedi emprestado para poder ler também. Principalmente porque a fluidez de gênero é algo sobre a qual nunca tinha pesquisado antes, que não vemos todos os dias. E foi assim que conheci o autor Jeff Garvin e seu “Todos, nenhum: simplesmente humano”.

Todos, nenhum: simplesmente humano

Todos, nenhum: simplesmente humano (Symptoms of Being Human) *****
Autor: Jeff Garvin
Gênero: Drama, LGBT
Ano: 2017
Número de páginas: 400p.
Editora: Plataforma21
ISBN: 978-859-27-8309-9
Sinopse: “Riley Cavanaugh é um ser humano com muitas características: perspicaz, valente, rebelde e… gênero fluido. Em alguns dias, se identifica mais como um menino, em outros, mais como uma menina. Em outros, ainda, como um pouco dos dois. Mas o fato é que quase ninguém sabe disso. Depois de sofrer bullying e viver experiências frustrantes em uma escola católica, Riley tem a oportunidade de recomeçar em um novo colégio. Assim, para evitar olhares curiosos na nova escola, Riley tenta se vestir da forma mais andrógina possível. Porém, logo de cara recebe o rótulo de aquilo. Quando está prestes a explodir de angústia, decide criar um blog. Dessa forma, Riley dá vazão a tudo que tem reprimido sob o pseudônimo Alix. Numa narrativa em que o isolamento é palpável a cada cena, Jeff Garvin traça um poderoso retrato da juventude contemporânea. Somos convidados a viver a trajetória de Riley e entender o quê, afinal, significa ser humano.” (fonte)

Todos, nenhum: simplesmente humano

Comentários: O livro conta a história de Riley Cavanaugh, que aos 16 anos ouve música em discos de vinil, só come comida vegana e acaba de sair do colégio católico onde estuda para tentar fugir do bullying em uma escola pública. Seu pai é deputado, o que torna a vida de sua família extremamente tumultuada e visada, principalmente durante uma fervorosa campanha de reeleição… Riley tenta lidar e esconder o fato de que é gênero fluido. Alguns dias a “bússola” acorda extremamente feminina a ponte de desejar usar um vestido bufante, em outros bem masculina e a vontade é andar pesado pelos corredores usando os jargões dos meninos. Para evitar esses extremos sua aparência é bastante “andrógena”, o que para os colegas chega a ser repulsivo… Entre salas de aula, humilhações constantes e os eventos do pai, sua saída é praticar os exercícios dados pela sua médica para controlar o Transtorno de Ansiedade que tudo isso causa… E contar com a ajuda de seus novos amigos: Solo, o gigantesco geek jogador de futebol, e Bec, uma garota bastante alternativa pela qual desenvolve uma paixonite instantânea…

No meio dessa tempestade, diante da proposta de aderir a alguma “causa”, Riley abre um blog anônimo para falar sobre fluidez de gênero sob o pseudônimo “Alix”. Suas expectativas são neutras, até que um pouquinho de visibilidade ao ter esse espaço virtual citado no site-referência do assunto, o “Aliança Queer”, torna sua conta no “Blogr” alvo de pedidos de ajuda e conselhos, além de (claro) muitas ofensas. Após o caso de uma de suas aconselhadas estourar na mídia o blog começa a fazer cada vez mais sucesso, aumentando seu orgulho e medo, já que um stalker que parece ser da sua escola o descobre, ameaçando seu segredo. Ao mesmo tempo Bec se transforma na ponte de ligação com um grupo de pessoas que também trabalha diariamente com a aceitação da própria identidade de gênero, o que faz com que o momento de revelar toda a verdade pareça estar cada vez mais perto…

“Todo mundo se sente perdido. Todo mundo está… à procura. À procura de um lugar para ficar. Alguém para estar do seu lado. (…) E, mesmo estando fora de tudo, talvez tenhamos sorte. Porque já temos isto.” – Riley

Todos, nenhum: simplesmente humano

A primeira pergunta que você faz ao começar a leitura, a questão mais inevitável de todas na nossa cabeça doutrinada é: biologicamente, Riley é menino ou menina? Você espera que o autor vá dar uma dica através da roupa que seus pais escolhem para usar em alguma festa, os comentários de colegas (seja maldoso ou não) e mesmo algum pronome que vai ter que ser usado. Mas não é. Não sei COMO Garvin conseguiu, mas NUNCA vemos o “ele” ou “ela” sendo usado nessa sua escrita. Acho que esse é o primeiro mérito do livro, porque pra mim está sendo extremamente difícil fazer isso aqui, nesse post, então imaginem em um romance de 400 páginas. E é maravilhoso porque com isso ele te ensina, aos poucos, que o gênero não importa. Riley é, literalmente, todos, nenhum: simplesmente HUMANO, como o título da versão brasileira brilhantemente sugere.

Eu não consigo achar críticas negativas para fazer à história. A pesquisa sobre o assunto está clara, minuciosa e natural, parece quase impossível que alguém não consiga aceitar a existência de gêneros não-binários nesse mundo… Porém o preconceito existe, muito! Esse é outro ponto maravilhoso… A LGBTfobia está presente de forma extremamente real. O garoto malvado da escola, que torna a vida de quem é tido como diferente um inferno, não é “gay enrustido”, não queria ser como eles… É um BABACA mesmo! O preconceito não é parte dolorosa da vida de quem o pratica, não é justificado, é mostrado como a atrocidade que realmente é. Inclusive eu não estava esperando o clímax tão impactante que a história teve, pra mim foi um choque e minha ansiedade foi nas alturas junto com a da personagem, pra depois se transformar em lágrimas constantes até a última página acabar.

“Minha mãe diz que chorar é só o jeito do corpo de expulsar coisas ruins. Tipo um espirro. Tipo um espirro da alma.” – Solo

Lágrimas não só pela ficção, mas também pela vida real. Lágrimas por saber que somos o país que mais mata travestis e transexuais no mundo. Por lembrar que bissexuais são invisibilizados mesmo dentro do movimento que deveria defendê-los. Pela realidade chocante de que, escondidos por aí, “estupros corretivos” são feitos para que uma garota deixe de ser lésbica ou uma trans “vire homem direito”. São lágrimas de tristeza e MUITA RAIVA de ouvir as pessoas maltratando e assassinando seres humanos por quem amam ou por quem são. E tudo isso em nome de alguém que nunca disse “Mata os viado!” e sim que devemos amar ao próximo como a nós mesmos… Então ao invés de “respeitar mesmo sem aceitar”, de dizer “nada contra, MAS…”, de pensar que eles estão “jogando isso na nossa cara” quando estão simplesmente vivendo, que tal abrir a mente por inteiro, tirar a viseira e praticar esse amor?

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  • Carol R.

    Parece bem interessante
    bjs

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  • Camila Faria

    Oi Luly, acho que eu nunca li um livro com um personagem de gênero fluido, que iniciativa maravilhosa. O livro parece ser incrível, fiquei curiosa para saber como o autor conseguiu trabalhar a narrativa sem o “ele” ou “ela”. Dica maravilhosa. E sim, coração apertado em pensar no quanto somos atrasados no que diz respeito aos direitos individuais (e humanos!). </3

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  • Adriel CHristian

    oiê!

    primeiramente, obrigado. obrigado por compartilhar com a gente essa indicação de livro incrível. assim como a Comi, não me recordo de ter lido algum livro sobre gênero fluído, mas imagino que deve ser complicado viver assim, principalmente por a maioria das pessoas não entenderem como a coisa funciona.

    eu vou ler o livro sim, tanto é que acabei de achar o pdf, pois: pobrinha. quando aparecer dinheiro por aqui, com certeza irei comprar o físico. aliás, amei essa ideia d@ personagem ter um blog. deve deixar a leitura ainda mais interessante.

    enfim… obrigado, obrigado, obrigado. mal posso esperar pra adentrar ao mundo d@ Riley. <3

    bjs!

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  • Kaila Garcia

    Esse livro deve ser bem intenso, mesmo precisando de bastante atenção, acho que vale a pena a leitura! ?

    http://www.kailagarcia.com

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  • Leslie Leite

    Genteem, que máximo a premissa do personagem principal! Eu conhecia até o gênero asexuado, mas, é a primeira vez que ouço falar em gênero fluido.
    Esse livro deve ser genial e tocante. Realmente, a primeira pergunta que me fiz foi se Riley biologicamente havia nascido menino ou menina. PRE-CI-SO ler esse livro, até o coloquei na lista de futuras leituras.
    Beijo, http://www.apenasleiteepimenta.com.br

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  • Anny Silva

    Não conhecia esse livro mas parece ser bem interessante. Pela resenha eu lembrei de uma pessoa no meu convivio que bate direitinho com certos trecinhos ai rsrs. Para ser bem realista é uma das poucas pessoas de grande generosidade que conheço.
    espero que esteja bem luly
    Bjs

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  • Gabe

    Nunca tinha ouvido falar, mas fiquei tocada com a resenha, deu vontade de ler, pra mim, tudo isso de gênero é bem complexo, sabe? Eu me perco, prefiro não catalogar na hora de falar, porque não entendo bem sobre cada gênero, não tenho nenhum tipo de preconceito, muuuito pelo contrario, apoio muito a luta diária de cada um, e pra mim, seria perfeito se todo mundo pudesse usar mais o amor e menos o ódio, né?

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  • Stéphanie Garcia

    wow parece muito interessante!! Gostei muito, quero ler um dia <3

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  • Janeise Santos

    Aaaa eu nunca li um livro que falasse sobre ou tivesse personagens de gênero fluído. Então primeiramente obrigada por compartilhar essa resenha com a gente. Fiquei com vontade de ler e o jeito como você falou me fez ficar mais curiosa. Eu preciso ler!
    Beijão ?

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  • Mari

    Eu acho que essa leitura deve ser muito interessante, ainda mais por ser um protagonista de gênero fluido. Não li nada ainda nesse sentido e fiquei com muita vontade de ler esse!
    Beijos
    Mari
    Pequenos Retalhos

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  • Thais Brandão

    Eu entrei na universidade este ano e em uma das atividades propostas em sala foi desenhar algo que nos representasse e trocar o desenho com outras pessoas sem que soubessem quem era o autor, nessa brincadeira, tinha um desenho de um mesmo boneco só que com diversas roupas e estilo diferente, tanto puxado para o homem quanto para mulher, e para encurtar a história o autor se apresentou e falou desse mesmo caso que o personagem tem, eu nunca tinha ouvido falar dessa situação e nem sabia que existia, esse livro parece ser ótimo para esclarecer e sabermos lidar com pessoas que se sentem assim. Desculpa o textão mas foi impossível não lembrar do meu colega de classe ao ler essa sua resenha.

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  • Sam Joyce

    Cara esse livro parece ser um amooor <3 Não tinha ouvido falar sobre ainda, mas parece interessante

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  • Erika Monteiro

    Oi Luly, tudo bem? Que reflexão mais incrível. Independente de qual seja nossa angústia acredito que todos nós estamos buscando um grupo, estamos buscando um lugar para nos encaixar. Uma hora ou outra nos sentimos perdidos, sozinhos, e até excluídos. O bom é que pode demorar mas encontramos nossos iguais e eles nos compreendem. Beijos, Érika =^.^=

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  • Luana Souza

    Esse assunto do livro realmente não é muito discutido, mas é tão, TÃO importante que esse tipo de coisa seja falda na literatura, pois é realmente triste pensar que em pleno século 21 ainda tem de se discutir aceitação de tal orientação sexual ou identidade de gênero. Dá até um desgosto do mundo nessas horas.
    De toda forma, mesmo eu sendo bem melancólica, ainda tenho um restinho de fé na humanidade.

    O livro parece ser incrível, e a temática também, Fiquei um tanto curiosa para ler <3 Ah, e adorei sua resenha *-*

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