O Amigo dos Sonhos

O Amigo dos Sonhos

O Amigo dos Sonhos

Eu queria que alguém me dissesse que vive algo igual, só para eu ter certeza de que esse tipo de coisa é comum… Sei lá, às vezes eu acho meio estranho, em outras acho normal sem muito significado e tem aqueles momentos em que fico devaneando se não existe algo maior por trás, algo espiritual, mesmo sendo um pouco cética para esse tipo de coisa na maior parte do tempo. No fim das contas não faz diferença, nada disso muda a realidade bela e bizarra de que meu antigo amigo imaginário me ajuda através de sonhos.

Ok, pareço completamente louca falando, mas é verdade.

Muitas crianças têm amigos imaginários, mas esse veio um pouquinho tarde demais na minha vida, quase na adolescência. Eu não o criei, ele apareceu sabe-se lá como já pronto, alto, ruivo, de olhos azuis, meio nerd, quando eu paro pra pensar é a imagem perfeita do protagonista do primeiro livro que eu escrevi. E ele era meu melhor amigo! Na época eu até tinha amigos muito legais (foi antes dos anos de solidão escolar pelos quais eu passei), mas ninguém era igual. Me entendia, sabe? Às vezes me dava respostas que eu nem sabia que ia ouvir… Ou quem sabe até sabia, mas no momento quem estava dizendo aquilo tudo era ele, não eu, então vamos continuar assim… Quando eu morri de medo de encarar minha escola nova, ele tava do meu lado. Quando eu preguei um poster do Daniel Radcliffe na parede e fiquei admirando apaixonada, ele zuou minha cara. Quando fiquei doente e não pude estrear minha nova sandália da Sandy, ele consolou essa breve decepção. Eu sabia histórias de quando ele era um garotinho, ouvia elas dentro de casa ou enquanto empurrava o carrinho do supermercado com meus pais, nossos momentos juntos eram uma delícia, porém chegou o dia em que eu precisei rasgar essa página da minha vida. Ora, eu estava bem grandinha, né? Já tinha passado da fase de criar o amigo ideal na minha mente, era hora de encarar o mundo real como ele realmente deveria ser! Foi então que eu resolvi abandoná-lo em nome da “mocinha” que já era, não era certo ter esse tipo de brincadeira de criança. Decidi que se um dia tivesse um filho menino daria aquele nome pra ele e aí tava tudo ok, seria uma homenagem silenciosa cujo motivo ninguém precisaria saber, e com o tempo esqueci que essa era a origem do mesmo…

Até que, alguns anos mais tarde, quando eu sequer pensava mais em um tudo isso, ele de repente voltou.

Eu já era quase adulta, nos anos loucos da faculdade, numa das situações da vida em que a gente não sabe bem o que fazer e vai dormir com a cabeça cheia de preocupações na esperança de acordar com uma solução imediata. Naquela noite eu sonhei com esse problema, e ele apareceu para me dar a resposta. Foi meio que um diálogo mesmo, eu expus o que tinha acontecido e nós conversamos até que a saída fosse exposta, e eu acordei na manhã seguinte maravilhada com a experiência. Vários meses se passaram, surgiram contratempos de relacionamento, e quem foi me consolar enquanto eu dormia? Ele outra vez! E aí eu formei, tinha conseguido minha primeira cliente e não tinha onde fazer o trabalho, adivinha quem veio dando a sugestão certa naquela madrugada? Ele mesmo! Não é sempre, quem me dera, mas vira e mexe o “amigo dos sonhos”, que uma vez chamei carinhosamente de “Brothah” – tipo brother, com sotaque britânico forçado, que nem eu e minha irmã nos chamamos de “Sistah” -, dá uma passeada na minha cabeça desacordada com um ombro pra eu chorar e palavras pra me acalmar, surpreender, ajudar.

Outro dia contei isso prum grupo de amigas, temendo um pouquinho ser julgada, e elas sentiram uma mistura de admiração e arrepios, quase querendo também. Ficamos alguns momentos procurando significados, achamos vários e nenhum ao mesmo tempo, assim como a maioria das coisas da vida que a gente começa a tagarelar sobre. Só sei que no fim eu disse “Eu só queria que ele existisse de verdade!” e uma delas simplesmente soltou “E quem disse que não existe?”, como se encerrasse a questão. Pois é, quem disse?, não é mesmo…

ps.: Ei, Brothah, aí no mundo do inconsciente ou seja lá onde você vive, se não tiver fazendo nada, aparece essa noite pr’a gente bater um papo porque, menino, cê num sabe o quanto eu tô precisando… Ou será que sabe?

Esse post foi inspirado nas propostas #134, 185 e 197 do Creative Writing Prompts, que oferece mais de trezentas ideias legais para desenvolver sua escrita criativa. É o 11º entre os 25 que me propus a escrever até outubro de 2018.

Maresia

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  • Natz Sodré

    Eu nunca tive amigo imaginário, acho que nem quando eu era criança.. Eu sempre conversei com minhas barbies e meus outros brinquedos, era como se eles tivessem vida.. Mas uma pessoa “igual a mim” que só eu via e ouvia, para ser meu amigo ou amiga, nunca apareceu.. mas não julgo que tem, cada um é cada um não é? Na minha opinião, ninguém deve criticar ninguém.. beijokas 🙂

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  • Carolina Espilotro

    Que texto boooom, mas me deixou meio bad. Eu nunca tive um amigo imaginário, nunca consegui ter e olhar que criatividade era uma coisa que nao faltava, já que vivia desenhando. Eu vivia tentando em ter um amigo imaginário justamente por ter pouquissimos de verdade, mas nunca consegui e apenas aceitei usuahsuahu continuei com minhas brincadeiras sozinha

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  • Bianca

    Minha mãe diz que eu tinha um amigo imaginário quando era muito pequena, mas eu não me lembro dele. Achei a sua história muito legal e acredito que esse seu amigo realmente exista em um mundo paralelo, você tem sorte em poder contar com ele nos seus momentos difíceis! ^^
    Beijos

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  • Carolina R

    Eu nunca tive amigo imaginário.
    bjs

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  • Camila Faria

    Maravilhoso Luly! Que sonho (literalmente) conversar com o meu amigo imaginário na hora de dormir!!! Amei o texto ~ foi inspirado em fatos reais? 😉

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    • Luly Lage

      Algumas coisas (palavras e expressões) eu coloquei pra atender as sugestões das propostas do site, mas a essência em si é verdade, eu de vez em quando sonho com ele quando preciso de um help, é estranho!

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  • vanessa

    “Quem disse que não existe?”
    Excelente questão abordada aqui. Acredito que o que existe é no que acreditamos.
    Amei seu texto e o assunto em questão.
    beijocas.

    meumundosecreto

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  • Julia Shkvo

    A wonderful post and photo, dear! And the blog is very cool!
    I will be glad friendship blogs ?
    Julia Shkvo

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