Branca de Neve permanecia deitada em seu esquife de cristal, sem qualquer consciência do que havia acontecido consigo mesma, simplesmente adormecida. Não havia nada em sua cabeça, nenhum sonho ou resquício de imaginação, pois a magia que havia na maçã envenenada que tinha comido a poupava desse tipo de atividade, fosse ela funcionar como alento ou tormento. Ela não sabia que seus amigos fiéis estavam ao seu redor, esperando pacientemente pelo momento que ela despertasse daquele estágio de estupor, cuidando para que ficasse tudo bem até lá. Não sabia também (e seus amigos suspeitavam, mas não tinham certeza), que era preciso que um “príncipe encantado” finalmente desbravasse a floresta que havia ao seu redor para acordá-la com seu ato de amor verdadeiro, mas isso não solucionava realmente seus problemas, já que ninguém sabia quem era. Todos tinham seus palpites e torciam para ele surgisse logo, mas naquele momento especulações não eram o suficiente diante do baque com o qual estavam tendo que conviver. Ela havia sido amaldiçoada para que outras pessoas pudessem ter seu próprio final feliz e agora tinha que arcar com as consequências disso e permanecer apenas existindo
Ao mesmo tempo, não sabemos muito bem se perto ou longe dali, havia outra Bela Adormecida, presa num sono também causado pelas suas próprias injustiças, sua própria inimiga que não podia aceitar que ela fosse quem era. E para aquela princesa também havia um príncipe onde residia a esperança de se livrar da sua maldição. Foi definido desde sempre que um estava destinado ao outro, ele sabia que era sua função encontrá-la e por isso cavalgava na direção indicada, sempre focado em fazer aquela relação dos sonhos dar certo, sem nem ao menos olhar para os lados. E no meio de sua viagem, num daqueles tropeços do destino para os quais a vida nos empurra, acabou cruzando o caminho daqueles anões que viram nele a esperança pelo qual tanto aguardavam: o fim dos dias regados a lágrimas e silêncio. Dentro do caixão os lábios rubros como a rosa pareciam formar um sorriso, como se seu corpo inconsciente já reagisse à possibilidade maravilhosa que estava ali em sua frente. O príncipe analisava bem a situação em que havia se colocado e sabia que poderia (quem sabe?) salvar a menina, mas e se funcionasse? E se descobrisse que ela era o amor de sua vida, e não a outra com a qual ele sempre havia imaginado? Será que valia a pena arriscar, mesmo que isso fosse mudar completamente o rumo das duas histórias?
Sem coragem para agir, ele se desculpou e continuou incansavelmente o trajeto sem fim rumo à incômoda zona de conforto, à princesa com a qual esperava ser feliz, sem saber se era mesmo possível. Deixou Branca de Neve para trás e nunca descobriu se aquele beijo teria funcionado, fazendo com que a garota continuasse fora de si esperando por quem, finalmente, viesse salvá-la daquela realidade, defendê-la dos males que tanto a atormentavam sem que ela sequer tivesse ciência deles…

Esse post foi MAIS OU MENOS inspirado na proposta #4 do Creative Writing Prompts, que oferece mais de trezentas ideias legais para desenvolver sua escrita criativa. É o 10º entre os 25 que me propus a escrever até outubro de 2018.
Luly Lage Reply:
September 14th, 2016 at 4:23 pm
Na verdade o final da história retrata o contrário… O príncipe ficou preso ao seu destino com a outra princesa que era “prometida” dele sem nem tentar ajudar a Branca de Neve… Ele resolveu NÃO arriscar, isso sim =/
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Kimberly Camfield Reply:
September 16th, 2016 at 6:54 pm
Vishhh, interpretei errado hahah Mas tudo bem, adorei o texto mesmo assim <3
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